Conforme dados históricos e mitológicos, o novo conhecimento passou da Índia para a China através da difusão da doutrina de Buda. Sendo atribuído a Bodhidharma também conhecido por Ta Mo Dharuma e Dharuma Taishi, que pelo ano de 527 d.C., estando recolhido no famoso Templo de Shaolim, ensinou aos seus monges técnicas de combate, de meditação e de domínio de energia, que posteriormente dariam fama imortal a esse templo.
Conta a lenda que Bodhidarma, 28º Patriarca do budismo era um membro da casta guerreira Kshatriya. Tendo ouvido falar do declínio da fé Budista que nessa época reinava na China e a pedido de seu Mestre Prajnatara, decidiu partir para ajudar a restaurar a fé e ensinar os Dhyana, ou seja os Koans do Zen. Depois de viajar por vários locais chega ao Mosteiro de Shaolim, onde segundo alguns historiadores permanece em meditação por nove anos. Funda o Budismo Ch´an (Zen em Japonês) e como forma de vencer a ociosidade a que os monges se entregavam e a lassidão dos seus corpos, transmite-lhes uma série de exercícios respiratórios, energéticos e princípios de combate.
Durante o Período Sui, aproximadamente 40 anos após a morte de Bodhidharma, o Mosteiro de Shaolim é assaltado por um grupo de bandidos, acontecimento recorrente praticamente durante os séculos seguintes. Durante esta tentativa de invasão, cedo os monges descobriram que o seu conhecimento marcial não era ainda suficientemente bom para repelir o ataque.
Conta a lenda, que estando o Mosteiro prestes a capitular, surge um monge, cuja única referência era ser conhecido pelo monge “pedinte”, que com um rasgo brutal de agressividade e com técnicas de mão é pé, mata alguns dos invasores e mantém outros à distância. Mais tarde, maravilhados com a habilidade deste monge, os restantes pedem-lhe que lhes ensine o seu formidável sistema de combate, para que desta forma se pudessem defender de ataques futuros. Em registos posteriores, este sistema de combate foi chamado de Chuan-Fa, que significa Lei do Punho e em Japonês se pronuncia com Kenpô. Os ideogramas Kanji que formam esta palavra são iguais, contudo, difere apenas a forma de a pronunciar entre os dois países.
O Tigre – Representava a força de ossos, baseado no ataque frontal, na agressão e no poder físico. Os movimentos eram curtos e explosivos, atacando qualquer ponto não protegido do adversário. O Tigre representava também a impetuosidade dos jovens e a sua forma muito física de lutar.
O Leopardo – Representava a força muscular, utilizava técnicas mais precisas do que o estilo do Tigre, produzindo ataques internos com as mãos, para os quais necessitava de uma distância mais curta.
O Grou Branco – Representava a flexibilidade, preconizava ataques a uma distância longa e fora dos ângulos de ataque dos seus adversários. Este estilo requeria uma grande flexibilidade para os seus ataques e manobras de evasão. O Grou representava um excelente equilíbrio tem asas muito grandes e usa-as de forma efectiva.
O Dragão – Representava o forte treino espiritual. A sua forma de combate usava movimentos simples, técnicas básicas conjugadas com uma estratégia de movimento intrinsecamente ligada ao movimento do adversário, quando este avança recuavam quando este recuava avançavam. Usavam movimentações alternadas procurando confundir com movimentos flutuantes, balanceando ao seu redor e usando ataques com técnicas de “chicote”. O Dragão representava também a sabedoria, própria dos mestres.
A Cobra – Exercitava o Ki, a energia interna. O estilo da cobra atacava principalmente os pontos vitais. Os olhos e a garganta eram alvos primordiais. Os movimentos deste estilo são fluidos ondulantes e os ataques enfatizam o uso dos dedos.
Entre o período Sui e o período Ming, um espaço de 800 anos pensa-se que muitos monges viajaram até Okinawa e até ao Japão levando consigo conhecimento, a doutrina de Buda e a arte do Kenpo, o que explica a sua rápida disseminação. A arte do Chuan Fa, já traduzida como Kenpo teria sido ensinada aos novos monges como suplemento do seu treino espiritual diário. Muitos destes monges, escolhiam discípulos ou ensinavam em vários templos budistas disseminando a palavra de Buda e o poder do Kenpo. Desta a forma a arte rapidamente foi absorvida quer pela nobreza quer por pessoas comuns.
Infelizmente a evolução do Kenpo no Japão é igualmente fragmentada e misteriosa. Durante o reinado de Hideyoshi Toyotomi o Japão tenta conquistar a China, pensa-se que muitos samurai, depois da guerra, trouxeram consigo um imenso conhecimento em Chuan Fa que ao longo dos anos modificaram e incluíram nas suas próprias artes marciais, o Ju Jutsu e o AikiJutsu. É nesta época que o Kenpo apresenta a sua maior evolução.
Nas primeiras décadas do século XX por volta de 1930 James Mitose, figura controversa das artes marciais Havaianas, torna-se imensuravelmente ligado à exportação do Kenpo para o Ocidente. Independentemente do muito que se escreve sobre esta figura, com quem aprendeu o Kenpo ou efectivamente com quem não aprendeu, cedo a arte que trazia consigo despertou a atenção do povo havaiano e da mescla de culturas que habitavam o Hawai.
Alguns dos seus alunos fizeram treino cruzado com Sensei Okazaki. Depois de Mitose sair do Hawaii os seus alunos inovaram e ainda continuam a fazê-lo. Os Kenpokas de então usaram o que funcionava e tiveram uma ampla oportunidade de fazer as suas experiências práticas nas ruas de Honolulu, tal como muitos praticantes de Okinawa se testavam a eles mesmos nos bares de e nas ruas de Naha Harbor. Os praticantes de Kenpo basearam a sua arte em aplicações, por exemplo, como se defender de um murro, como se defender de um estrangulamento, como se defender de uma faca, como se defender de um pau, etc.
William Chow tornou-se aluno de Mitose e praticante de Kempo-Jujitsu. Cedo se notabilizou como lutador de rua, graças à sua velocidade e impacto dos seus golpes, pelos quais lhe foi dado a alcunha de “Thunderbolt”. Mais tarde envia um irmão seu para aprender Danzan Ryu Jujutsu e desta mistura Chow criou o Chinese Kara-Ho Kenpo Karate, estilo que rapidamente fez sucesso graças à tremenda reputação de eficácia que conquistou nas lutas de rua no Hawaii de então. Passou a maior parte da sua vida estudando e aperfeiçoando as técnicas que conhecia.
Um dos melhores estudantes de Chow, foi um nativo Hawaiano de nome Edmund Parker, mais conhecido por Ed Parker, foi uma das figuras mais proeminentes da história moderna do Kenpo, expandindo-o por todo o mundo e impulsionando o seu sistema até a sua forma actual. Ed Parker que tinha iniciado a sua prática através do boxe e do judo, em 1953 obtém o seu cinto negro em Kenpo.
Tal como Chow, Ed Parker era um lutador de rua e adaptou o que tinha aprendido ao tipo de lutas que normalmente encontrava nas ruas. Cedo se apercebeu que o que tinha aprendido não estava perfeitamente adaptado à forma que se lutava às ruas norte americanas do século XX. Após ter-se mudado para os Estados Unidos, em 1954 para a cidade de Provo, no Estado do Utah, onde se matriculou na Brigham Young University, Ed Parker abre o seu primeiro Dôjo de Kenpo Karate.
Ed Parker organizou cada técnica e movimento num formato que pudesse ser dividido em diferentes níveis para que os estudantes pudessem aprender melhor esta fascinante arte. Construiu o seu sistema de kenpo baseado em princípios lógicos e regras de movimento, acompanhados por um profundo conhecimento em anatomia humana. O seu sistema foi desenhado de maneira a beneficiar e extrair a sua força de um conjunto de ciências como a Física, Anatomia, Psicologia a Geometria entre outras. Influenciado também por um grande mestre de Chuan Fa, Jimmy Wing Woo, Ed Parker, com a ajuda do mestre Woo adiciona ao seu estilo formas com influências dos estilos chineses.
Como esta evolução apresentava já muitas diferenças em relação ao kenpo do Sr. Chow, decidiu renomeá-lo e chamar-lhe “American Kenpo Karate”.
Apesar de condenado e designado como um rebelde durante os seus primeiros anos na parte continental dos Estados Unidos, firmemente perseguiu o conhecimento nas Artes Marciais baseado nos aspectos práticos e na lógica. Analisando interpretando e experimentando, Ed Parker descobriu, modificou e desenvolveu conceitos e princípios que se estenderam muito além da aceitação dos estilos tradicionais